Homoparentalidade e a vivência do Édipo em filhos de casais homoafetivos
Resumo
Buscando acompanhar os movimentos de transformação dos conceitos de família e parentalidade ocorridos nas últimas décadas, este estudo pretende discutir o complexo de Édipo, tema importante da teoria psicanalítica, a partir do enfoque da homoparentalidade. Tendo conhecimento da existência de uma parcela de psicanalistas que se colocam contra o exercício da parentalidade por casais homoafetivos, alegando prejuízos e entraves da falta da diferenciação sexual ao desenvolvimento do psiquismo infantil, o trabalho se propõe a pensar de que maneira o complexo de Édipo poderia se dar em filhos de casais homoafetivos, através de uma revisão narrativa articulando conceitos de base importantes da teoria com contribuições mais atuais. No presente artigo, discutem-se outras possibilidades de identificação, diferenciação e inserção de um “terceiro” para a criança, revelando a não obrigação de diferenciação de gênero atrelada a essas funções e questionando os papéis atribuídos pela sociedade às figuras masculina a feminina. Além disso, alerta-se sobre a necessidade de uma constate atualização por parte dos psicanalistas e sobre a problemática da postura excludente e patologizante dentro da psicologia e da psicanálise no que se refere ao exercício da parentalidade por casais homoafetivos.
Homoparenthood and the experience of Oedipus in children of same-sex couples
Seeking to follow the movements of transformation of the concepts of family and parenting that have taken place in recent decades, this study intends to discuss the Oedipus complex, an important theme in psychoanalytic theory, from the standpoint of homoparenthood. Aware of the existence of a portion of psychoanalysts who oppose the exercise of parenting by same-sex couples, claiming damages and obstacles to the lack of sexual differentiation to the development of the child psyche, it was proposed to think about how the Oedipus complex could happen in children of same-sex couples through a narrative review articulating important basic concepts of the theory with more current contributions. In this article, other possibilities of identification, differentiation, and insertion of a “third” for the child are discussed, revealing the non-obligation of gender differentiation linked to these functions and questioning the roles attributed by society to male and female figures. In addition, it warns about the need for a constant update on the part of psychoanalysts and the problem of the excluding and pathologizing posture within psychology and psychoanalysis regarding the exercise of parenting by homosexual couples.
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